
João Cap. 1:1-5
“ No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.”
É interessante percebermos que o dia 25 de dezembro carrega muito mais um valor simbólico do que concreto para o estabelecimento do nascimento de Jesus.
Expresso na simbologia de suas cores marcantes e das luzes inconfundíveis de árvores bem enfeitadas, o Natal torna-se o anúncio do nascimento de um novo tempo de paz, reconhecido por cristãos e não cristãos.
O avanço no conhecimento histórico, associado aos temas bíblicos, permite-nos entender que, embora a data do nascimento de Jesus não seja indicada nos evangelhos e que a escolha do dia 25 de dezembro possa ser uma reação do cristianismo primitivo à festa pagã do deus sol, os relatos evangélicos do Natal são pinturas de uma história feita de “saudade, fé, esperança e amor”.
Se no Evangelho de João, Cristo é “a luz do mundo” e nos Evangelhos de Lucas e Mateus os anjos anunciam a chegada do Salvador que trará paz na terra entre homens e mulheres de bem, o nascimento de Jesus tem em especial as marcas da expectativa messiânica de um novo mundo anunciado por Deus. O Natal tem em seu centro os mesmos sinais do espírito de justiça e de reconciliação, promovidos pelo sistema sabático e pelo ano jubileu judaico, pois um tempo de descanso e de libertação nasce juntamente com Cristo.
Os elementos essenciais que marcam o nascimento de Cristo foram transportados dos mesmos ideais característicos de um Deus que ama a justiça e se comporta como justificador daqueles que se abrem ao seu chamado e acolhimento.
Percebemos, no entanto, uma diferença significativa entre o Natal ideal e o Natal real. Enquanto o primeiro revela seu verdadeiro sentido, a partir de concepções teológicas estabelecidas há séculos, o segundo sinaliza o modo como a maioria das pessoas vivencia o Natal de forma prática.
Há um bom tempo, observamos a agitação que toma conta das pessoas nas ruas, à medida que se aproxima, em dezembro, o tão esperado dia de Natal. Seja em uma grande cidade ou nos menores vilarejos, a maioria das pessoas parece ser preenchida por uma mistura de sentimentos que envolvem alegria, ansiedade, nervosismo e uma lista de obrigações necessárias para que tudo fique perfeito neste dia de festa.
No entanto, se fizermos uma pesquisa, mesmo que isenta, grande parte dos brasileiros não saberá dizer qual o verdadeiro sentido do Natal. Muitos associam esta festa a um tempo oportuno para confraternização entre amigos e família, com troca de presentes. Outros continuam na expectativa da chegada do Papai Noel em um trenó mágico, entoando seu famoso e característico riso, alimentando a imaginação de pequenos entusiastas. Outros, ainda, expressam um certo descontentamento com a apropriação que o comércio fez desta data, produzindo lucros a partir de uma maçante propaganda em torno do tema.
Fenômenos interessantes parecem acontecer na vida das pessoas neste tempo. Como em um passe de mágica, uma flutuante sensação de alegria e bondade toma conta de um bom número de pessoas que “obrigatoriamente” precisam estar bem, precisam comer a melhor comida, comprar o melhor presente, visitar creches e asilos e, quem sabe, adotar uma criança para passar o Natal com a família.
O sentido do Natal é, então, esvaziado e substituído por sentenças práticas que acontecem no esporádico da vida, sem o sustentamento de uma análise mais consistente a respeito de seu real significado e dos desdobramentos de uma convivência mais justa, equilibrada e amorosa.
O verdadeiro sentido do Natal precisa estar além da superficialidade de nossa prática comum. Deve ser uma busca constante por elementos que sejam duradouros e permanentes na construção das relações humanas. O verdadeiro sentido do Natal deveria acontecer sempre como parte de nosso cotidiano e jamais como uma comemoração anual. Deveria estar fixado em nossa memória e celebrado em nossa vida como elemento intrínseco à nossa fé.
Os desafios que se impõem para aqueles que desejam a experiência de um Natal diferente, com sinais de amor, esperança e relações mais justas entre as pessoas, estão na prática de uma fé que busca o Novo mundo de Deus e que se esforça para que ele aconteça de forma permanente, e não somente uma vez a cada ano.